Buscando...

Psicose



Havia, em uma vida qualquer, uma caixa gigante.
A caixa tinha limo escorrendo pelas paredes como ranho negro, achando que era uma deliciosa cascata. Um cheiro pútrido dançava no ar brincando de bailarino. Uma cobertura de lama seca e azeda que se fazia feliz de carpete. Uma penugem de espinhos finos nasciam por todos os lados crente de que era pelúcia.

A caixa estava aberta, e havia alguém sentado lá dentro. O alguém estava nu. Abraçava os joelhos, a cabeça pendia para o lado onde podia se ver um colchão velho e embolorado, com o tamanho perfeito que o alguém precisava. Ele olhava. O colchão tinha braços. Em uma das mãos do colchão havia um buquê de flores secas. O alguém que estava sentado sempre achou que flores secas eram bonitas. Os braços pareciam convidativos, abrindo-se como que para receber alguém. Aquele alguém. Só que o alguém soube que depois que recebesse aquelas flores e sentisse aqueles braços tocando suas magras costelas, não teria mais volta. A caixa se fecharia. A tampa, alguém já tinha visto, tinha a parte interna salpicadas de insetos e colônias de fungos, pingava uma umidade amarelada que tinha cheiro de urina. Aquele alguém sabia que esses seriam os sentidos que ele conheceria de agora em diante. Apenas aqueles.

O alguém arrumou a cabeça na curva de seus joelhos e esperou.
Era você?

0 comentários:

Postar um comentário

 
Subir!